Um olhar sobre as Boas Práticas de Enfermagem na Atenção Básica - Revista Brasileira de Enfermagem

Um olhar sobre as Boas Práticas de Enfermagem na Atenção Básica

Revista Brasileira de Enfermagem. 01-01-2018;71(3):930-931

DOI: 10.1590/0034-7167.2018710301

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a) O território geopolítico de produção e reprodução da vida e do trabalho como cenário da BPEnAB

As BPEnAB, mesmo ocorrendo no domicílio, na unidade básica de saúde, têm o território geopolítico como foco primordial. Um território ou um espaço geopolítico, é onde se produz a vida e, portanto, também onde aparecem as necessidades em saúde e as vulnerabilidades. Diferentemente com risco, vulnerabilidade tem a ver com grupos sociais. Risco centra-se na noção de indivíduos, usualmente mirando, exclusivamente, o corpo biopsíquico. Mas o clínico não se trata do corpo biopsíquico somente, como bem menciona Foucault no Nascimento da Clínica(). No território, o corpo clínico é visto de ponta cabeça, localizando o sujeito na esfera da produção e reprodução social, ou seja, sua participação em grupos sociais da sociedade, historicamente organizada, e até chegar no indivíduo e em sua família(). A pergunta usualmente feita é “em que território geopolítico essa prática sucedeu?” Para responder a isso, eu preciso saber como esse território se encontra em relação à produção e reprodução social, e como funciona a sua geografia política e ambiental. É preciso saber qual é o perfil epidemiológico dos diferentes grupos sociais que habitam aquele território (município ou um distrito de um município). Então, na verdade, eu preciso voltar atrás, bem atrás, fazendo os seguintes questionamentos: O que move a economia do lugar? Quem são essas pessoas? Qual é a origem delas? Quais são as suas origens étnicas e de classe? Em que elas trabalham? Quais são os seus vínculos de trabalho? Não têm vínculos de trabalho? São agricultoras? São pessoas proprietárias de grandes terras? São latifundiárias? São pessoas proprietárias de pequenas empresas, como as de carrinhos de cachorro-quente que vende na rua? É dono do carrinho ou está trabalhando para alguém? Enfim, é preciso saber como essas pessoas produzem a vida e o trabalho, como parte da vida; e, além disso, como isto vem se dando historicamente no território, a história geopolítica do lugar; a história de produção social do lugar; e a história de reprodução social do lugar (consumo). Por isso, ao invés de só fazer uma fotografia do lugar, é preciso saber um pouquinho como a coisa vem vindo, como um filme. Para depois eu poder dizer se esse filme vai acabar bem ou mal e se as contradições provocadas por subalternidade de classe, de gênero, de étnica e de geração serão de tal sorte, que a realidade vai se transformar; mas, se não houver a intervenção planejada, coletiva e direcionada à autonomia dos sujeitos, a realidade objetiva poderá ficar ainda mais difícil na vida das pessoas.

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